Ecce Homo - Cap. 10: Assim falou Zaratustra Pág. 78 / 115

Este lugar e esta paisagem sentia-os eu agora mais perto do meu coração por virtude do grande apreço que outrora Frederico III lhes consagrara; e estava de novo por acaso ali quando, no Outono de 1886, ele pela última vez visitou esse pequeno e esquecido mundo feliz. Foi entre aqueles dois caminhos que me surgiu a ideia de toda a primeira parte de Zaratustra e, de todas, a mais importante: Zaratustra considerado como símbolo. Mais propriamente: foi aí que Zaratustra me surpreendeu...

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Para compreender este símbolo, cumpre, antes de mais, ter em conta a sua primeira condição fisiológica: aquilo que chamo a «boa saúde». Não posso explicar melhor a ideia, não posso interpretá-la de maneira mais pessoal do que já fiz num dos últimos trechos do livro quinto do Alegre Saber.

«Nós, homens novos, inominados, difíceis de compreender, -lê-.se ali - precursores de um futuro ainda por abrir, carecemos de novos meios para atingirmos novos fins, carecemos, digo, de uma nova saúde, de saúde mais vigorosa, mais provada, mais resistente, mais intrépida e mais jocunda do que todas as formas de saúde que até aqui existiram. Aquele cuja alma aspira a viver toda a extensão dos actuais valores e aspirações, tendo percorrido todas as costas' deste «mediterrâneo» ideal, aquele que pretende conhecer por experiência própria e própria aventura quais os sentimentos de um conquistador e de um explorador do ideal, e, ao mesmo tempo, de um artista, de um santo, de um legislador, de um justo, de um sábio, de um homem piedoso, de um homem de Deus de outras eras, terá, antes de mais nada, necessidade de uma coisa: «boa saúde», saúde que não só possua, mas lhe seja necessário sempre e sempre reconquistar, pois que ela a cada novo dia se perde e tem de perder-se.





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