Capítulo 10: Assim falou Zaratustra
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.. E agora, depois de estarmos há longo tempo a caminho, nós, Argonautas Ido Ideal, mais audazes talvez do que a prudência aconselha, que muitas vezes naufragámos e ficámos reduzidos à última extremidade, mas mais saudáveis do que nos desejariam, perigosamente saudáveis, de saúde sempre renovada, parece-nos ter sempre adiante de nós, como recompensa, uma terra incógnita, cujas fronteiras ninguém viu jamais, terra mais além de todas as terras de todos os refúgios do ideal até hoje conhecidos; mundo tão cheio de coisas belas, estranhas perturbantes terríveis e divinas, que tanto a nossa curiosidade como a nossa sede de possuir saíram dos seus gonzos. Ah, nada agora consegue já satisfazer-nos! E como poderíamos, depois de tantos indícios e com tal forma de consciência e de ciência, satisfazer-nos já com os «homens actuais»? 'Ê bastante, grave, certamente mas inelutável que olhemos desde aqui os seus mais caros objectivos e esperanças com riso mal contido, se não é mais adequado dizer que nem sequer já olhamos... Outro ideal se nos depara, ideal estranho, ajudante, cheio de perigos, ideal que não ousaríamos propor fosse a quem fosse, porque a ninguém reconhecemos «direito» a invocá-lo: é o ideal de um espírito que se alegra ingenuamente, quer dizer, sem cálculo, com tal plenitude e tal poder, que ultrapassa tudo quanto se considerou até agora sagrado e bom, intangível e divino, para o qual «o mais elevado», em que o comum dos homens tem a Sua medida do valor, representa alguma coisa que mais propriamente se afigura perigo de decadência e degradação, ou então, pelo menos, recurso aleatório, cegueira, alheamento; é o ideal de um bem-estar e de uma boa-vontade «humanos, sobre-humanos», que muitas vezes se afigurará inumano, quando,
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