- Olhe para esta porcaria de coisa! Olhe-a bem!
Não lhe provoca vontade de vomitar?
- Concordo que é esteticamente ofensiva, embora não me pareça que interesse muito.
- Com certeza que interessa ver as paredes da cidade cheias de mamarrachos destes.
- Bem, trata-se meramente de um fenómeno temporário. O capitalismo na sua última fase. Duvido que mereça a pena apoquentarmo-nos com isso.
- Mas há mais. Repare na cara do fulano a olhar-nos! Vemos toda a nossa civilização escrita nela. A imbecilidade, o vazio, a desolação! Obriga-nos à pensar em cartas francesas e metralhadoras. Sabia que, o outro dia, desejei que rebentasse a guerra? Ansiava por ela... quase orei por ela.
- O pior é que cerca de metade dos jovens da Europa desejam a mesma coisa.
- Esperemos que sim. Então, talvez aconteça.
- Isso não, meu amigo! Uma vez bastou.
- A vida que hoje vivemos... - Recomeçou a caminhar, agitado. - Não é vida, mas estagnação, a morte em vida. Veja todas as detestáveis casas e pessoas sem rumo que contêm! Às vezes, penso que somos todos cadáveres. Vamos apodrecendo, apesar de nos movermos.
- O seu erro consiste em falar como se se tratasse de um mal incurável. Na realidade, é algo que tem de acontecer antes que o proletariado assuma o poder.
- Ora, o socialismo! Não me fale disso.
- Devia ler Marx, Gordon. Compreenderia então que isto não passa de uma fase. Não pode durar eternamente.
- Não? Pois dá a impressão de que durará eternamente.