GORDON COMSTOCK» era um raio de nome, mas ele pertencia a um raio de família. O ramo «Gordon» era escocês, claro. A prevalência desses nomes na actualidade faz meramente parte da escocificação da Inglaterra que se tem desenrolado nos últimos cinquenta anos. «Gordon», «Colin». «Malcolm», «Donald» - constituem dádivas da Escócia ao mundo, juntamente com o golfe, uísque, papas de aveia e obras de Barrie e Stevenson.
Os Comstock pertenciam à mais obscura de todas as classes - a classe média - média, a plebe sem terras. Na sua miserável pobreza, nem sequer tinham a consolação snobe de se considerarem uma família «antiga» decadente em dias maus, pois não se tratava de modo algum de uma família «antiga», mas apenas de uma daquelas que se erguera na crista da vaga da prosperidade vitoriana, para depois se afundar mais depressa que a própria vaga. Desfrutara quando muito, de cinquenta anos de comparativa abundância, correspondentes ao período de vida do avô de Gordon, Samuel Comstock - o avozinho Comstock, como ele fora ensinado a chamar-lhe, embora o velho morresse quatro anos antes de Gordon nascer.
O avozinho Comstock era uma daquelas pessoas que mesmo do túmulo exercem uma poderosa influência. Em vida, fora um biltre duro de roer. Espoliara o proletariado e o estrangeiro de cinquenta mil libras, mandara construir uma mansão de tijolos vermelhos tão durável como uma pirâmide e contribuíra para a produção de doze filhos, onze dos quais haviam sobrevivido. Por fim, tivera morte súbita, em resultado de uma hemorragia cerebral. Em Kensal Green, a família colocou-lhe em cima um monólito com a seguinte inscrição:
EM RECORDAÇÃO ETERNA DE SAMUEL EZEKIEL COMSTOCK, MARIDO FIEL, PAI EXTREMOSO E HOMEM INTEGRO E PIEDOSO, NASCIDO A 9 DE JULHO DE 1828 E SEPARADO DESTA VIDA A 5 DE SETEMBRO DE 1901. ESTA LÁPIDE ERIGIDA PELOS SEUS INCONSOLÁVEIS FILHOS. ELE DORME NOS BRAÇOS DE JESUS.
Não há necessidade de repetir os comentários blasfemos a esta última frase emitidos por todos os que tinham conhecido o avozinho Comstock.