E na verdade, no dia seguinte estávamos sóbrios! Gordon emergiu de um sonho longo e doentio para a consciência de que os volumes da livraria se achavam colocados do modo errado. Pousados nas capas. Além disso, por razões que lhe escapavam, estas tinham-se tornado brancas - brancas e brilhantes, como a porcelana.
Abriu os olhos um pouco mais e moveu um braço. Pequenas flechas de dor, aparentemente accionadas pelo movimento, irromperam de lugares inesperados do corpo _ ao longo da barriga das pernas, por exemplo, e de ambos os lados da cabeça. Apercebeu-se de que jazia de lado, a face apoiada numa almofada dura, com um cobertor áspero que lhe arranhava o queixo e introduzia O'S pêlos na boca. Além das pequenas dores que' o flagelavam cada vez que se movia, havia outra mais intensa, surda, não localizada, mas parecendo dominá-lo por completo.
De repente, afastou o cobertor e soergueu-se. Encontrava-se numa cela da Polícia. No mesmo instante, assolou-o um terrível espasmo de náusea. Descortinando vagamente uma sanita ao canto, arrastou-se para lá e vomitou três ou quatro vezes.
Em seguida, durante vários minutos, foi dominado por uma dor angustiante.
Quase não conseguia manter-se de pé, a cabeça latejava como se estivesse na iminência de explodir e a luz parecia um líquido branco escaldante derramado no cérebro através das órbitas. Sentou-se na cama e apertou a cabeça entre as mãos. Por fim, quando o latejar se atenuou, voltou a olhar em redor. A cela media quatro metros por dois e era muito alta. As paredes compunham-se inteiramente de tijolos de porcelana branca, horrivelmente brancos e limpos. Ele perguntou-se vagamente como conseguiriam efectuar a limpeza junto do tecto. Talvez com uma mangueira. Num dos lados havia uma pequena janela gradeada, muito alta, e, no outro, por cima da porta, uma lâmpada eléctrica enroscada num suporte embebido na parede e protegida por uma rede metálica. Descobriu igualmente que não estava sentado numa cama, mas numa espécie de prateleira, com um cobertor e uma almofada de lona.
