Vivamente, o vento ameaçador varre
Os flexíveis choupos, recém-despidos.
NA realidade, contudo, não soprava a menor aragem, naquela tarde. Fazia um tempo quase tão benigno como na Primavera. Gordon repetiu para consigo o poema que iniciara na véspera, num murmúrio cadenciado, simplesmente pelo prazer que o som lhe proporcionava. Naquele momento, sentia-se encantado com ele. Em um bom. poema... ou seria, quando o terminasse. Já não se recordava de que, na noite anterior, quase lhe provocara náuseas.
Os plátanos mantinham-se imóveis, obscurecidos por leves cortinas de neblina. Um «eléctrico» zuniu no vale em baixo. Gordon subia Malkin Hill, arrastando os pés entre as folhas secas caídas, que se espalhavam pelo pavimento, douradas e quebradiças, como os flocos de um cereal de pequeno-almoço americano, como se a rainha de Brobdingnag tivesse entornado a sua embalagem de Flocos Truweet ao longo da encosta.
Aprazíveis os dias de Inverno sem vento!
Era o melhor período do ano - ou, pelo menos, Gordon pensava assim naquele momento. Sentia-se tão feliz quanto possível para uma pessoa que não fumara em todo o dia e tinha apenas três pence e meio e um Joey na algibeira. Era quinta-feira, em que a livraria encerrava mais cedo e ele ficava com a tarde livre. Dirigia-se a casa do crítico Paul Doring, que vivia em Coleridge Grove e promovia chás literários.
Demorara mais de' uma hora a preparar-se. A vida social torna-se muito complicada, quando o rendimento se resume a duas libras por semana. Barbeara-se dolorosamente com água fria logo após o almoço e vestira o seu melhor fato - com três anos de existência, mas ainda aceitável, depois de se lembrar de «engomar» as calças sob o colchão. Com a ponta de um fósforo, extraíra graxa suficiente da lata para' polir os sapatos. Até pedira emprestada uma agulha a Lorenheim para cerzir as peúgas - tarefa fastidiosa, mas preferível a ter de pintar as áreas das pernas tornadas visíveis pelos buracos.