Os penachos das chaminés flutuavam perpendicularmente, tendo como pano de fundo o céu rosado enegrecido pelo fumo.
Gordon apanhou o autocarro da carreira 27 às oito e dez. As ruas ainda se achavam imersas no sono dominical. Nas soleiras das portas, as garrafas de leite aguardavam que as recolhessem, como sentinelas brancas. Ele tinha catorze xelins na mão - ou antes, treze e nove pence, porque a passagem do autocarro custava três pence. Nove xelins que pusera de parte do seu salário - só Deus sabia quais seriam as repercussões ao longo da semana! - e cinco que pedira emprestados a Júlia,
Visitara a irmã na quinta-feira à noite. O quarto dela em Earl's Court, embora situado nas traseiras de um segundo andar, não se podia considerar um aposento vulgar como o de Gordon. Tratava-se de um quarto-sala, com ênfase nesta última, Júlia preferiria morrer de fome a ter de suportar um ambiente miserável como aquele em que o irmão vivia. Na realidade, cada peça de mobiliário, reunido ao longo de intervalos de anos, representava um período de semi-inanição. Havia um divã-cama que se podia tomar facilmente por um sofá, uma pequena mesa de carvalho fumado, duas cadeiras «antigas», um escabelo ornamental e uma poltrona - treze salários mensais, no Drage's - diante do pequeno fogão de gás, assim como vários suportes de fotografias emolduradas do pai e da mãe, de Gordon e da tia Ângela, além de um calendário de madeira de vidoeiro - prenda: de alguém num Natal -, com «A sua longa vereda que não tem regresso» em pirogravura. Júlia deprimia Gordon profundamente. Ele tentava convencer-se a visitá-la mais vezes, mas na prática só a procurava para pedir dinheiro «emprestado».
Depois de bater três vezes - eram três pancadas para o segundo andar -, a irmã conduziu-o ao quarto e ajoelhou-se diante do fogão.
- Vou tornar a acender o lume -anunciou. - Suponho que te apetece uma chávena de chá?
O «tornar» não passou despercebido a Gordon.