Gordon seguia para casa contra o forte vento, que lhe impelia o cabelo para trás e proporcionava uma fronte mais «alta» que nunca. A sua atitude infundia aos transeuntes - pelo menos, era essa a sua esperança - a impressão de que não usava sobretudo por mero capricho. Na realidade, fora empenhado por quinze xelins.
Willowbed Road, NW, não era de modo algum miserável, mas apenas suja e deprimente. Havia áreas de facto miseráveis a menos de cinco minutos a pé dali. Casas humildes em que famílias de cinco membros dormiam numa única cama e, quando um deles morria, os sobreviventes deitavam-se com um cadáver até que o sepultavam; becos estreitos e obscuros onde raparigas de quinze anos eram desfloradas por rapazes de dezasseis apoiados às paredes leprosas. Mas Willowbed Road conseguia manter uma espécie de decência moderada da classe média-baixa. Havia mesmo uma placa de bronze de dentista numa das casas. Em pelo menos a terça parte delas, entre as cortinas de renda da janela da sala, via-se um cartão verde com a indicação «Apartamentos» em letras prateadas, acima da folhagem espreitadora de uma aspidistra.
Mrs. Wisbeach, hospedeira de Gordon, especializava-se em «cavalheiros sós».
Quartos de dormir-salas, com iluminação de gás e cada um que se aqueça como puder, banho à parte (havia um chuveiro) e refeições na sala de jantar escura-túmulo com a falange de frascos de molho salpicados no meio da mesa. Gordon, que ia almoçar a «casa", pagava vinte e sete xelins e seis pence semanais.
A luz de gás emitia um clarão amarelo através da bandeira embaciada da porta do número 31. Ele puxou da chave e procurou o buraco da fechadura - naquele tipo de casas, a chave nunca entra à primeira tentativa. O pequeno e sombrio vestíbulo - na realidade, tratava-se de uma mera passagem - cheirava a água de lavar a loiça, couves cozidas, capachos húmidos e despejos de quartos. Volveu o olhar para a bandeja envernizada em cima da mesinha. Não havia correspondência, evidentemente. Gordon dissera a si próprio que