Ninguém me respondeu. Só uma mulher, curvando-se-lhe sobre o ouvido:
– Eu sei o que tu tens, eu sei o que tu tens...
– Que é?
– É pena. A vida não se torna a viver. Perdeste-a.
Esqueceste-te dela a sonhar... a sonhar!... Trocaste o sol, o ódio, trocaste a realidade por nuvens. E, aí! a vida não se torna a viver! A vida para ti foi como a água que passa pelas mãos duma dessas estátuas que tu vês nas fontes.
Nunca cessa, igual, fresca, cheia de cintilações, e nunca também estanca a secura dessas figuras de pedra... Ai, não se torna a ter na boca o sabor a sangue e a mocidade, nem as árvores são as mesmas árvores e o riso o mesmo riso. Queria ter fome e ser moça... Perdeste-a!
perdeste-a!...
– E tu?
– Eu?... Eu fui nova e todos dariam a vida por mim.
Amaram-me, mas o que eles queriam era o mármore do meu corpo e a minha boca moça e viva. As rugas vieram, mirrou-se-me o colo, seco e inútil, e então arredaram-me.
E dentro do meu peito ardia ainda o mesmo amor.
Como pode meter-se uma nuvem dentro duma pedra ressequida? Desci à humilhação, a procurar o amor que se paga. Isto! isto!.