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Capítulo 17: XVI - O que é a vida?

Página 102
Sua dor é mais contida, e misturada de ternura, mas a interrogação, sem ser ansiosa, nem por isso deixa de persistir nem de ser igualmente dramática: – Para quê? para quê?... – Compreendo agora melhor o lado sério e sagrado da afeição, e fito as mãos deformadas, as mãos que eu queria beijar, com dor e espanto. Todos sofreram – todos cumpriram a vida. E nenhum sabe o que é a vida. O céu, esta bondade cega e muda, não responde, a morte não responde... Só sabemos todos que ao lado da vida – é que está a verdadeira vida. Outra vida. A consciência da vida. Debalde desviamos o olhar. Ela é que nos importa.

A Vida está aqui presente – e todos nós pressentimos que a sua sensibilidade é extraordinária e que é tão delicada que por um acto nosso a podemos matar. Essa vida sofre com as nossas acções e aproxima-se ou afasta-se em gritos de desespero. Às vezes quer deter-nos, às vezes quer prevenir-nos, às vezes faz esforços enormes para se interpor entre nós e os nossos actos. Às vezes grita e não lhe ouvimos os gritos. Às vezes toca-nos, está ao nosso lado. Às vezes perdemo-la no caminho.

Creio que é essa Vida que nos sustenta. E os humildes sentem-na mais profundamente, sentem-na mais perto de si, porque vivem em maior silêncio e mais isolados, e talvez também porque essa Vida é muito grande e muito simples e se dá melhor com a humildade dos desgraçados. Mas a Vida, que é um clarão ou uma luzinha de candeia que se apaga num sopro – nem eu a conheço nem tu a conheces...

Por fim o Gabiru ficou sozinho com os pobres.

Eles não sabiam explicar a vida: sentiam-na e sofriam.

De pé ainda teimou:

– Foi assim... Disseram-me um dia: – Eis aqui um tesouro, cava! e eu pus-me a cavar. Dum lado e de outro acumulou-se a terra.

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pág. 102 (Capítulo 17)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154