A Vida está aqui presente – e todos nós pressentimos que a sua sensibilidade é extraordinária e que é tão delicada que por um acto nosso a podemos matar. Essa vida sofre com as nossas acções e aproxima-se ou afasta-se em gritos de desespero. Às vezes quer deter-nos, às vezes quer prevenir-nos, às vezes faz esforços enormes para se interpor entre nós e os nossos actos. Às vezes grita e não lhe ouvimos os gritos. Às vezes toca-nos, está ao nosso lado. Às vezes perdemo-la no caminho.
Creio que é essa Vida que nos sustenta. E os humildes sentem-na mais profundamente, sentem-na mais perto de si, porque vivem em maior silêncio e mais isolados, e talvez também porque essa Vida é muito grande e muito simples e se dá melhor com a humildade dos desgraçados. Mas a Vida, que é um clarão ou uma luzinha de candeia que se apaga num sopro – nem eu a conheço nem tu a conheces...
Por fim o Gabiru ficou sozinho com os pobres.
Eles não sabiam explicar a vida: sentiam-na e sofriam.
De pé ainda teimou:
– Foi assim... Disseram-me um dia: – Eis aqui um tesouro, cava! e eu pus-me a cavar. Dum lado e de outro acumulou-se a terra.