Os Pobres - Cap. 20: XIX - A Mouca Pág. 120 / 158

– E agora? agora? Quiseste, aí tens. Toma. Tu aqui és uma desgraçada como eu. Aqui não há meninas. E agora? agora? pensas que és mais do que as outras?

– Sou mais desgraçada.

E pôs-se a soluçar.

Mas de súbito a Mouca gritou:

– Perdão! perdoe-me, menina! Eu era por inveja.

Saiba: não a podia ver por inveja. Fui sempre assim, Não me fique com raiva. Eu dizia cá comigo: Então os outros têm mãe e eu nunca a tive? Os outros são infelizes um dia, mas eu fui infeliz desde que nasci. Criaram-me os ladrões, já deve ter ouvido. Tenho sido muito má pra a menina, peço-lhe que me perdoe. Era por inveja. Peço-lhe que se ria pra mim, para me mostrar que não está zangada comigo. É boa! eu dizia cá por dentro: hei-de pô-la tão rasa como eu. Que é ela mais do que eu? Sabe porque lhe tinha esta osga? Por ver que a menina era infeliz e boa pra todos. Eu sou assim, sou como um cão.

Peço-lhe uma coisa... Bata-me, para eu acreditar que é minha amiga.





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