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As prostitutas, que dantes odiavam Sofia, chamam-lhe agora menina, depois que a vêem sua igual. Repartem com ela o pão que ganham, e ao vê-la caída, chorando, ficam aflitas, porque não sabem consolá-la.
– Mais lhe valia deitar-se a afogar – diz uma.
– Isto aqui é uma vida de cão.
– Olhai que ter fome!... Sempre a fome é negra – conclui outra.
Só a Mouca a odeia. Ela que foi sempre a mais maltratada, maltrata agora. Se pudesse, pisá-la-ia aos pés.
Ela, de quem todos se riam com escárnio, cuspida pelos soldados, quer fazer sofrer. Não há ser mais degradado, não porque seja má, mas porque é como todas as criaturas que o homem cria para o gozo.
A princípio todas faziam sofrer Sofia. Tinham vontade de a rebaixar, de a verem chorar lágrimas de aflição para a igualarem.
– Cá temos a menina!
– Quem no diria? Não falava a ninguém a mosquinha morta! E para aprender!
– Deixai-a!
– Deixai-a o quê? Ela é como as outras.
– Deixai a pobre, que não faz senão chorar. Vocês não têm coração.
– Também a gente sofre.
Riam-se, empurravam-na para os piores tratos, mas pouco e pouco, diante daquela dor silenciosa e profunda, calaram-se. Tratavam-na por menina. Uma queria penteá-la, outra ajudá-la. Só a Mouca lhe tinha o mesmo ódio.
– Olha lá, ó parida!
– É comigo que fala?
– Faz-te tola! acaba lá com esses ares de senhora.
Já estou farta. Tu aqui és tanto como eu, sabes?
– Sei – diz Sofia.
– Tu conheces-me? Olha se me conheces, senão ensino-te quem sou. Acabou-se! embirro com isso.
Pareces uma sonsinha... Tu falas?
Sofia olha-a silenciosa.
– Ah, tu não falas? Olhas pra mim com cara de escárnio? Não quero que olhes pra mim, não quero, ouviste? Ai, não falas? Toma!
E deu-lhe uma bofetada.