Os Pobres - Cap. 27: XXI - Aí têm os senhores a natureza! Pág. 157 / 158

As fontes deitam oiro, as plantas têm fios de oiro e no chão há toalhas e caminhos de oiro e sombras.

– Senhor Pita, eu quero ser isto...

– Isto quê? – resmunga o outro concentrado.

– Quero ser isto!...

Mas Pita, enfronhado nos cálculos, resmoneia:

– Maquinações filosóficas. Deixa-me... Eis a diferença – 22$000 réis... Eis!...

O Gabiru caminha. Depois cai entre a erva tenra e nascida e deita-se a ver os rabiscos do sol e um galho tão em flor, que parece uma teia de luar esquecido. Primeiro o tronco incha: há como ponto negro que estoura, para ser botão e depois flor... Medita. Está um dia morno e húmido. Saíram das tocas os bichos internados todo o inverno. Vespas passeiam a sua roupa de oiro no mármore das flores e toda a terra remexe. Acreditá-la-íeis viva.

Em que se põe a pensar? O seu ouvido de enclausurado, afeito ao silêncio, ouve até ao fundo da terra o rumor dos bichos, tanto tempo empedernidos, que esfuracam para o sol; das sementes que rebentam e sobem para a luz, o glu glu das raízes gordas e felizes ao mergulharem no húmus.

É um barulho de maré longínqua que cresce, galga, aumenta, transborda... Espavorido deita a correr... Por toda a parte as sebes, as ervas escondidas, os tojos bravios, para quem ninguém repara, crescem. Há-os nas pedras; há-os no ventre ressequido dos calhaus.

Anda, anda, e dá com águas grossas, felizes, apressadas; com quinta-loiros onde a verdura cresce aos borbotões; pinheiros, depois silvas, bravios – e até nos sítios mais estéreis encontra a mesma vida e o mesmo amor.

Que força é esta que faz mexer a terra e a abala?

É uma torrente, um rio subterrâneo branco e verde, que vem à supuração? Um riacho de tintas, brotando à superfície do solo em labaredas verdes, todas roxas, inteiramente brancas? Há verdura tão ténue que di-la-íeis uma névoa verde; folhinhas que parecem feitas de um hálito que se pegou aos troncos.





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