No seu caminho só encontra desgraçados e todos os desgraçados procuram iludir-se. O seu convívio é com seres quase tão grotescos como ele e que se fartam de ilusão.
À tarde o Gebo vai para uma loja conhecida onde se juntam os comerciantes falidos e os professores sem discípulos, desesperados por terem perdido tudo menos a faculdade de sonhar. Um a um canto, calado, com as mãos sobre o castão da bengala e o queixo apoiado nas mãos, escuta. Escuta ou sonha?... Outro fala sempre, maneja cifras como um prestidigitador, e está ao facto de todos os negócios que se fazem na praça. E há outro a quem o dinheiro não interessa. Já tem enriquecido e empobrecido umas poucas de vezes, sempre com a mesma indiferença e o mesmo casaco verde; o que o interessa são as empresas, os planos, as aventuras irrealizáveis. E aquele encostado ao balcão, magro e sereno, só intervém com palavras decisivas e todos se afastam dele: têm a especialidade de meter no fundo os negócios em que entra, por melhores que eles sejam.
Todos trazem letras na algibeira, papéis que ninguém desconta, combinações esplêndidas para enriquecer. E falam muito, enganam-se uns aos outros, não por mentirem, mas para tornarem mais visível a sua aspiração, o sonho escondido e inútil. Só o Gebo não pode mais e olha-os num mudo espanto.
– Oh como eu sou feliz!... – exclamava um deles.
– Agora tenho aí um lugar...
Nem sequer o escutavam e, se um saía, diziam os outros:
– Cuido que está cada vez pior.
– Um homem que teve um crédito na praça!
– Tem a fome à porta.