O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 102

Os moradores tinham um ar próspero e ambicionavam prosperar ainda mais, esbanjando o excedente dos seus rendimentos em artigos de luxo; de tal modo que as montras das lojas naquela artéria tinham um aspecto alegre e convidativo, despertando o desejo dos transeuntes. Mesmo aos domingos, quando velava os seus encantos mais vistosos e se apresentava relativamente vazia, a rua tinha um brilho que contrastava com a sordidez que a rodeava, como um incêndio na floresta; as persianas pintadas de fresco, os latões bem polidos e o aspecto geral de asseio e vivacidade prendiam a atenção e faziam as delícias de quem por ali passasse.

Dobrada uma esquina, duas portas mais adiante, do lado esquerdo de quem se dirige para leste, a linha de casas era interrompida pela entrada de um pátio; precisamente nesse local, um edifício de aspecto sinistro projectava o seu frontão sobre a rua. Tinha dois pisos, mas nenhuma janela; apenas com uma porta, situada no piso térreo e sobre a qual se elevava uma parede nua e desbotada, o edifício apresentava sinais de uma negligência sórdida e prolongada. A porta, sem campainha nem batente, tinha a pintura estalada e sumida. Os vagabundos recolhiam-se naquele recanto e riscavam fósforos nas almofadas; as crianças brincavam nas escadas; um estudante exercitara a sua navalha nos entalhes; e, durante quase uma geração, ninguém parecia preocupado em afugentar estes visitantes ocasionais ou em reparar os seus estragos.

O Sr. Enfield e o advogado seguiam no passeio do lado oposto; porém, quando se acercaram da entrada, o primeiro ergueu a bengala e apontou, perguntando:

- Já alguma vez reparou naquela porta?





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