As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 9: O Intérprete Grego Pág. 195 / 274

Comecei então a perceber o que o meu amigo queria dizer quando afirmou que o irmão possuía faculdades muito mais vivas do que ele. Sherlock olhou para mim e sorriu. Mycroft tirou uma pitada de rapé de uma caixa de tartaruga e, com um lenço de seda vermelho, sacudiu do casaco alguns grânulos que tinham caído.

- A propósito, Sherlock - disse ele - tenho um caso curioso, um problema muito singular, que foi submetido ao meu julgamento. Não tive energia para o seguir, excepto de um modo muito incompleto, mas forneceu-me bases para especulações bastante agradáveis. Se quiseres ouvir o que se passou...

- Meu caro Mycroft, ficaria satisfeitíssimo.

O irmão escrevinhou uma nota numa folha de um bloco e, tocando a campainha, entregou-a ao empregado.

- Pedi a Sr. Melas para vir - disse. - Mora no andar por cima do meu e tenho uma certa intimidade com ele. Isto permitiu que, na sua perplexidade, este senhor me viesse procurar. Melas é grego por nascimento, creio, e é um notável linguista. Ganha a vida, em parte, como intérprete e, em parte, servindo de guia aos orientais abastados que frequentam os hotéis da avenida de Northumberland. Mas é melhor deixá-lo contar ao seu modo a sua estranha experiência.

Alguns minutos depois juntou-se a nós um homem baixo, corpulento e cujo rosto de azeitona e cabelo negro como carvão proclamavam a sua origem meridional, embora a pronúncia fosse a de um inglês culto. Apertou calorosamente a mão a Sherlock e os seus olhos pretos cintilaram de prazer quando compreendeu que tal especialista estava ansioso por ouvir a sua história.

- Não creio que a polícia me dê crédito; palavra de honra que não acredito - disse num tom de lamento. - Precisamente porque ainda não ouviram nada de semelhante, pensam que tal não pode suceder.





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