Só sei que não terei paz de alma enquanto não descobrir o que foi feito do meu pobre homem de pano no rosto.
- Sou todo ouvidos - disse Sherlock Holmes.
- Hoje é quarta-feira - disse Sr. Melas -, bem, então, foi na noite de segunda-feira, apenas há dois dias, que tudo isto aconteceu. Sou intérprete, como o meu vizinho talvez já lhe tenha dito. Traduzo todas as línguas... ou quase todas, mas como sou grego por nascimento e com nome grego, é com esta língua que principalmente trabalho. Tenho sido, desde há muitos anos, o principal intérprete grego em Londres e o meu nome é muito conhecido nos hotéis.
Sucede com frequência ser procurado fora de horas por estrangeiros que se encontram em dificuldades ou por viajantes que chegaram tarde e querem os meus serviços. Não fiquei portanto surpreendido quando, na segunda-feira à noite, um tal Sr. Latimer, um homem novo, vestido à última moda, me apareceu lá em casa e me pediu para o acompanhar a um trem que esperava à porta. Tinha chegado um grego para lhe falar de negócios, dizia ele, e como não sabia outra língua além da sua, os serviços de um intérprete eram indispensáveis. Deu-me a entender que morava um pouco longe, em Kensington, e parecia estar com muita pressa, empurrando-me mesmo para dentro do trem, mal chegámos à rua.
»Digo trem, mas fiquei logo na dúvida se não seria antes uma carruagem. Era com certeza mais espaçoso do que a miséria vergonhosa de quatro rodas que circula em Londres e as guarnições, embora usadas, eram de rica qualidade. Sr. Latimer sentou-se na minha frente. Pusemo-nos então em marcha através de Charing Cross até Shaftesbury; já tínhamos passado Oxford Street quando me aventurei a observar que não era aquele o caminho mais directo para Kensington, mas calei-me ao ver o estranho comportamento do meu companheiro.