As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 10: O Tratado Naval Pág. 249 / 274

Eu tinha já começado a suspeitar de Joseph pelo simples facto de você ter dito que desejava ir com ele, naquela noite, para casa; era pois, muito provável que ele, por sua vez, conhecendo bem o Foreign Office, passasse por lá a chamá-lo. Depois, quando ouvi dizer que alguém estivera ansioso por entrar no quarto, onde ninguém mais senão Joseph poderia ter escondido qualquer coisa - você contara-nos que o desterrara de lá quando chegara com o médico -, todas as minhas suspeitas se transformaram em certezas. Especialmente porque a primeira tentativa para entrarem no seu quarto aconteceu logo na noite em que a enfermeira estava ausente, demonstrando que o intruso estava familiarizado com os hábitos da casa.

- Como eu tenho sido cego!

- Olhe, o caso, segundo a reconstituição pelos factos que apurei, apresenta-se assim: Joseph Harrison entrou no seu escritório pela porta da Charles Street e, sabendo o caminho, entrou na sala justamente na altura em que você se ausentara. Não encontrando ninguém, tocou prontamente à campainha, mas, nesse instante, os seus olhos caíram sobre os papéis que estavam sobre a mesa. Um simples relance mostrou-lhe que o acaso o colocara perante documentos estatais do mais alto valor e, num ápice, meteu-os na algibeira e foi-se embora. Como o senhor se lembra, passaram alguns minutos até que o contínuo ensonado lhe chamasse a atenção para a campainha, tempo mais do que suficiente para o ladrão fugir.

Então, foi para Woking no primeiro comboio que arranjou e, examinando melhor os papéis, verificou a sua enorme valia e o lucro que daí lhe adviria. Resolveu escondê-los num sítio que considerava muito seguro, com a intenção de os retirar dentro de um ou dois dias e de os levar à embaixada francesa, ou aonde quer que lhe pagassem um bom preço.