As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 2: A Face Amarela Pág. 52 / 274

Quando ela se voltou para nós soltei um grito de surpresa e horror. O rosto que se voltou para nós tinha uma coloração lívida e era absolutamente desprovido de qualquer expressão. Um instante depois o mistério foi explicado. Holmes, com uma risada, passou a mão atrás da orelha da criança e tirou a máscara do seu rosto. Via-se um pouco de negro de carvão que piscava entre os dentes brancos dela, que sorriam perante as nossas caras espantadas. Comecei a rir, por simpatia com a sua alegria, mas Grant Munro ficou sério, a olhar, com a sua mão a apertar a sua garganta.

- Meu Deus! – exclamou. – Qual pode ser o significado disso?

- Eu vou dizer-lhe o significado disso – exclamou a esposa, entrando no quarto com uma expressão decidida no rosto. – Forçaste-me, contra a minha vontade, a dizê-lo, e agora temos os dois que lidar com as consequências. O meu marido morreu em Atlanta. A minha filha sobreviveu.

- A tua filha?

Ela mostrou um largo medalhão de prata que trazia ao peito.

- Nunca viste isto aberto?

- Pensei que não fosse de abrir.

Ela tocou numa mola e a parte da frente abriu-se. Havia um retrato de um homem extraordinariamente bonito e com um ar inteligente, mas apresentando sinais inequívocos de características evidenciando a sua descendência Africana.

- Este é John Hebron, de Atlanta – disse a senhora – e nunca um homem mais nobre pisou a face da terra. Desliguei-me da minha raça a fim de casar com ele, e nunca, enquanto ele viveu, me arrependi por um só instante. Foi a nossa infelicidade que o nosso único filho tenha herdado os traços do pai e não os meus. Acontece muitas vezes nestes casos, e a pequena Lucy é mais escura que o seu próprio pai foi. Mas escura ou clara, ela é a minha menina querida.





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