As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 4: A Tragédia do Glória Scott Pág. 96 / 274

De repente, quando o olhávamos, vimos a eclosão de uma nuvem preta que dele irrompia e que se ergueu como uma árvore monstruosa sobre o horizonte. Uns segundos mais tarde, um estrondo, como de trovão, chegou aos nossos ouvidos, e, quando a fumaça diminuiu, já não existia nenhum sinal do Glória Scott. Num instante voltámos a proa do nosso barco e remámos com força para o local onde a escuridão, pairando ainda sobre a água, marcava a cena da catástrofe.

Demorou uma longa hora antes que a alcançássemos, e a princípio receámos ter chegado tarde de mais para salvar alguns. Um bote furado e corpos de prisioneiros e pedaços de mastros que cavalgavam as ondas subindo e descendo mostraram-nos onde o navio se afundara, mas não havia nenhum sinal de vida, e regressávamos desesperados quando ouvimos um grito de socorro e à distância distinguimos um destroço do naufrágio com um homem estendido sobre ele. Quando o arrastámos para dentro do bote verificámos que era um jovem marinheiro, de nome Hudson, tão queimado e exausto que não nos pôde fornecer nenhum relato do acontecimento até à manhã seguinte.

Parece que, depois que os deixámos, Prendergast, com o seu bando, continuou a matar os cinco restantes prisioneiros: os dois carcereiros tinham sido abatidos a tiro e lançados ao mar, e o mesmo fizeram ao terceiro-piloto. Prendergast desceu ao convés e, com a sua própria mão, cortou a garganta do infeliz cirurgião. Restava apenas o primeiro-piloto, que era um homem ousado e activo. Quando viu o degredado aproximar-se dele com a faca sanguinária em punho, afastou as cadeias de que, de algum modo, se conseguira soltar e, precipitando-se convés abaixo, mergulhou no porão.

Doze proscritos que desceram com pistolas à sua procura encontratam-no com uma caixa de fósforos na mão, sentado em cima de uma barrica de pólvora, uma das cem levadas a bordo, jurando que atiraria tudo pelos ares se fosse atacado.





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