Oito de nós, cinco proscritos e três marinheiros, dissemos que não se devia fazer.
Mas nada demovia Prendergast e os que estavam com ele. ‘A nossa única oportunidade de salvação está em fazermos a coisa completa’ dizia ele, e não deixaria uma língua capaz de depor no banco de testemunha. Quase nos coube a sorte dos prisioneiros. Finalmente disse que, se quiséssemos, podíamos pegar num bote e zarpar. Agarrámos a ocasião com ambas as mãos, porque já estávamos fartos daqueles sanguinários e vimos que seria pior se não aceitássemos. Deram-nos fardas de marinheiros, um barril de água, duas barricas, uma de carne seca e outra de biscoitos, e uma bússola. Prendergast atirou-nos um mapa, disse-nos que éramos marinheiros naufragados cujo navio se afundara na lat. 15 N. e long. 25 W. e em seguida cortou-nos a amarra e deixou-nos ir.
E agora vem a parte mais surpreendente da minha história, meu querido filho. Os marinheiros, durante o motim, tinham puxado a verga de mezena mas, quando os deixámos, tinham-na posto outra vez no lugar certo e, como houvesse vento leve do norte e do leste, o navio começou lentamente a afastar-se de nós. O nosso bote ficou a subir e a descer ao sabor da ondulação longa e mansa, e Evans e eu, que éramos os mais educados do grupo, sentámo-nos na escotilha para estudar a nossa posição e escolher a costa a que nos devíamos dirigir. Era uma questão delicada, pois Cabo Verde estava a cerca de 500 milhas ao norte, e a costa africana a cerca de 700 milhas a leste. Em resumo, como o vento girava para o Norte, pensámos que Serra Leoa seria melhor. E voltámos então a proa naquela direcção, estando o navio nesse momento com a proa quase voltada para o nosso quarto estibordo.