Um Estudo em Escarlate - Cap. 13: 6 - Uma Continuação das Memórias do Dr. John Watson Pág. 111 / 127

Fomos conduzidos a um pequeno compartimento, onde um inspector da Polícia anotou o nome do nosso preso e os nomes dos homens de cuja morte era acusado. O funcionário era um homem pálido, fleumático, que desempenhava as suas funções de uma maneira monótona e mecânica.

- O preso será apresentado aos magistrados durante a semana - disse ele. - Entretanto, Sr. Jefferson Hope, tem alguma coisa a declarar? Devo avisá-lo de que as suas palavras serão registadas e podem ser usadas contra si.

- Tenho muita coisa a dizer - disse o nosso preso, lentamente. - Cavalheiros, quero contar-lhes tudo.

- Não seria melhor guardar isso para o julgamento? - perguntou o inspector.

- Talvez nunca venha a ser julgado - respondeu ele. - Não precisam de ficar com esse ar de espantados. Não estou a pensar em suicídio. Você é médico? - Virou os ferozes olhos para mim quando fez esta última pergunta.

- Sim, sou - respondi.

- Então ponha aqui a sua mão - disse ele com um sorriso, apontando para o peito com os pulsos algemados.

Assim fiz. Apercebi-me imediatamente de uma pulsação e agitação extraordinárias dentro do peito. As paredes do peito pareciam vibrar e estremecer como um edifício frágil que tivesse um motor a trabalhar no interior. No silêncio do compartimento podia ouvir-se um ruído monótono, sussurrante, que tinha a mesma origem.

- Mas - gritei - você tem um aneurisma aórtico!

- É assim que o chamam - disse ele, serenamente. - Na semana passada fui ao médico por causa disso, e disse-me que está sujeito a rebentar daqui a poucos dias. Há anos que tem vindo a piorar. Contraí isto por me ter exposto demasiado tempo ao sol e me ter alimentado mal nas montanhas de Salt Lake. Já fiz o meu trabalho; não me preocupo com o tempo que ainda tenho de vida, mas gostaria de deixar um relato do que aconteceu. Não quero ser recordado como um assassino vulgar.

O inspector e os dois detectives tiveram uma breve conversa sobre a conveniência de lhe darem permissão para contar a sua história.

- Doutor, considera que existe perigo imediato? - perguntou o primeiro.





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