Um Estudo em Escarlate - Cap. 2: 2 - A Ciência da Dedução Pág. 19 / 127

Senti-me bastante indignado por ver duas pessoas que eu admirava serem tratadas com tanta descortesia. Caminhei para a janela e fiquei parado a olhar para a rua movimentada. «Este tipo pode ser muito esperto», disse para comigo mesmo, «mas é de certeza muito presumido.»

- Hoje em dia não há crimes nem criminosos - disse ele com um tom lamentoso. - Que adianta ser inteligente na nossa profissão? Bem sei que tenho condições de tornar famoso o meu nome. Não existe nenhum homem nem nunca existiu que tenha tantos conhecimentos e talento natural para a detecção de crimes como eu. E qual é o resultado? Não há crimes para detectar ou, quando muito, uma patifaria com um móbil tão evidente que até um funcionário da Scotland Yard é capaz de descobrir.

Eu ainda estava irritado com o tipo de conversa pretensiosa. Achei melhor mudar de assunto.

- Gostava de saber o que aquele homem procura? - perguntei, apontando para um indivíduo forte, vestido com simplicidade, que descia lentamente pelo outro lado da rua, olhando ansiosamente para os números. Tinha na mão um grande envelope azul, era seguramente o portador de uma mensagem.

- Refere-se ao sargento aposentado da Marinha - disse Sherlock Holmes.

«Fanfarronice e bazófia!» pensei para comigo mesmo. «Sabe que não posso confirmar a sua conjectura.»

Mal tinha pensado nisto, quando o homem que observávamos divisou o número da nossa porta e atravessou rapidamente a rua. Ouvimos uma pancada forte, uma voz grave lá em baixo e passos lentos pela escada acima.

- Para o Sr. Sherlock Holmes - disse ele, entrando na sala e entregando a carta ao meu amigo.

Ali estava uma oportunidade para lhe tirar a presunção. Ele quase não pensou nisso quando fez aquela observação casual. - Meu rapaz, posso perguntar... - disse eu com a voz mais suave - qual é o seu mister?





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