Cândido - Cap. 7: CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava Pág. 20 / 118

CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava

Cândido não ganhou coragem, mas seguiu a velha até um casebre. Ela deu-lhe um boião de pomada para se friccionar, deixou-lhe de comer e de beber e mostrou-lhe uma cama bastante limpa, junto da qual se encontrava uma muda de roupa completa,

- Bebei, comei e dormi - disse-lhe ela - e que Nossa Senhora de Atocha, Santo António de Pádua e Sant'Iago de Compostela vos acompanhem. Eu voltarei amanhã.

Cândido, surpreendido com tudo o que tinha visto, com tudo o que sofrera e mais ainda com a caridade da velha, quis beijar-lhe a mão.

- Não é a minha que deveis beijar - disse a velha. -Voltarei amanhã. Friccionai-vos com a pomada, comei e dormi.

Cândido, apesar de tantas infelicidades, comeu e dormiu. No dia seguinte, a velha trouxe-lhe almoço, examinou-lhe as costas e esfregou-lhas ela própria com outra pomada. Trouxe-lhe o jantar e depois a ceia, quando se fez noite. No dia imediato voltou a repetir tais visitas.

- Quem sois vós - perguntava Cândido - e que é que vos inspira tamanha bondade? Como poderei mostrar-vos o meu reconhecimento?

A boa mulher, porém, nunca lhe respondia fosse o que fosse, até que uma noite, sem lhe levar de cear, lhe disse:

- Vinde comigo, mas não faleis.

Tomou-lhe o braço e levou-o através dos campos até uma casa isolada, rodeada de jardins e de canais, que ficava a um quarto de milha de distância. A velha bateu a uma portinha. Abriram-na e ela conduziu Cândido por uma escada secreta até um gabinete dourado, instalou-o num sofá de brocado, fechou a porta e desapareceu. Cândido julgava sonhar e considerava toda a sua vida passada como um pesadelo e o momento presente como um sonho agradável.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113