«Imediatamente os despojaram do vestuário, deixando-os nus como macacos, e o mesmo fizeram comigo, com minha mãe e as minhas damas de honor. É de admirar a diligência e a presteza com que eles despem as pessoas. Mas o que mais me surpreendeu foi terem-nos metido a todas o dedo no sítio onde nós, as mulheres, só deixamos meter cânulas. Tal cerimónia pareceu-me muito estranha, pois que não sabemos julgar bem as coisas quando nunca saímos do nosso país. Depressa compreendi que tal acto tinha o objectivo de ver se nós não tínhamos escondido lá alguns diamantes. É um uso estabelecido desde tempos imemoriais entre as nações policiadas que percorrem os mares. Soube que os religiosos cavaleiros de Malta nunca deixam de o cumprir quando se apoderam de turcos ou de turcas. É uma lei do direito das gentes a que nunca se faltou.
«Não vos direi como é duro para uma princesa ser levada para Marrocos como escrava, com sua mãe. Imaginais certamente quanto sofremos no navio corsário. Minha mãe era ainda muito Dela e as nossas damas de honor tinham mais encantos do que é possível encontrar em África. Quanto a mim, eu era a beleza e a graça personificadas e era ainda donzela. A flor que reservara para o príncipe de Massa-Carrara foi-me arrebatada pelo capitão corsário.