Cândido - Cap. 25: CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano Pág. 97 / 118

- Oh! Aqui está um Cícero - disse Cândido. - Penso que não deixais de ler este grande homem.

- Nunca o li - respondeu o veneziano. - Que me importa que ele tenha pleiteado por Rabírio ou por Cluêncio? Tenho bastantes processos para eu próprio julgar. Gostaria mais de ler as suas obras filosóficas, mas, quando vi que ele duvidava de tudo, concluí que afinal eu sabia tanto de filosofia como ele e que não precisava de ninguém para ser ignorante.

- Ah! - exclamou Martin. - Aqui estão oitenta volumes de compilações de uma academia de ciências. Deve haver entre elas alguma coisa de notável.

- Haveria - disse Pococuranté -, se alguns dos autores desses calhamaços houvesse simplesmente inventado a arte de fazer alfinetes. Mas em todos esses volumes só se encontram sistemas vãos e nem uma só coisa útil.

- Que infinidade de peças de teatro eu vejo aqui - disse Cândido -, em italiano, espanhol e francês.

- Sim - disse o senador -, há aí umas três mil, mas só umas três dúzias com qualidade. E quanto a estas colectâneas de sermões, que todos juntos não valem uma página de Séneca, bem como a todos esses grandes volumes de teologia, compreendereis que nem eu nem ninguém jamais os abriu.

Cândido deu com as estantes cheias de livros ingleses.

- Creio - disse ele - que um republicano deve sentir prazer com a leitura de obras tão livremente escritas.

- Sim - respondeu Pococuranté -, é belo escrever o 'que se pensa; é o privilégio do homem. Em toda a nossa Itália apenas se escreve o que não se pensa. Aqueles que habitam a pátria dos Césares e dos Antoninos não ousam ter uma ideia sem licença de um jacobino. Agradar-me-ia a liberdade que inspira os génios ingleses, se a paixão e o espírito de partido não corrompessem tudo o que esta preciosa liberdade tem de estimável.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113