Robinson Crusoe - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 51 / 241

Em seguida cortei os paus das velas e tudo o que pude para fazer uma grande jangada, que carreguei com todo aquele peso, e dirigi-me para terra. Mas a minha boa estrela começou a abandonar-me: a jangada ia tão carregada que, tendo entrado na pequena enseada onde desembarcara as minhas anteriores provisões, e não podendo dirigi-la tão facilmente como das outras vezes, soçobrou comigo e com todo o carregamento. Quanto a mim, pessoalmente, o acidente nada tinha de perigoso, porque estava perto de terra; mas, quanto à carga, perdi a maior parte dela, sobretudo o ferro que me teria sido de uma utilidade muito grande. Mesmo assim, quando a maré baixou, salvei a maior parte dos pedaços de cabo e um pouco de ferro, ainda que com grande trabalho, porque me vi na necessidade de mergulhar debaixo de água, o que muito me fatigou. Apesar desta desgraça, continuei a ir todos os dias a bordo e a trazer tudo o que pude.

Havia já treze dias que estava em terra, e nesse tempo tinha realizado onze viagens a bordo do barco. Levei tudo quanto uma pessoa só era capaz de levar e creio não exagerar dizendo que, se a calmaria tivesse continuado, teria transportado para terra todo o buque peça por peça. Mas, ao preparar a duodécima viagem, o vento começou a levantar-se, o que não me impediu de voltar a bordo quando a maré baixou; e ainda que houvesse revistado bastantes vezes o camarote do comandante, só então descobri um armário guarnecido de gavetinhas, numa das quais encontrei duas ou três navalhas de barbear, tesouras grandes e dez ou onze boas facas com outros tantos garfos; noutra gaveta dei com umas trinta e seis libras esterlinas em moeda da Europa e do Brasil, parte em oiro, parte em prata, e também algumas moedas miúdas.

A vista daquele dinheiro deu-me vontade de sorrir. _ Metal miserável! - exclamei. - Para que podes servir-me? Nem vale a pena que me incomode a apanhar-te: uma só destas facas é-me muito mais preciosa. Fica onde estás e some-te no fundo do mar, como um ser cuja vida não é digna de salvação!





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