Robinson Crusoe - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 61 / 241

É verdade que desta maneira apenas podia fazer uma tábua de toda uma árvore; mas nisto só perdia o tempo e o trabalho que me tomava, e o único remédio era ter paciência. Por outro lado, o meu tempo e o meu trabalho eram tão pouco preciosos que em nada importava que os empregasse de um modo ou de outro.

Fiz, portanto, primeiro uma cadeira e uma mesa, como já disse, servindo-me de vários bocados de madeira que tinha trazido do buque. Quando tive as tábuas prontas pus grandes prateleiras de pé e meio de comprimento, que coloquei umas por cima das outras nas paredes do buraco para 'arrumar os utensílios, os pregos e ferragens, numa palavra, todos os meus pertences, de modo a tê-los facilmente ao alcance da mão; espetei também no penhasco algumas escápulas para pendurar as escopetas e outros objectos diversos. A minha gruta poderia ser assim tomada por um armazém geral de todas as coisas necessárias: a boa ordem que reinava fazia-me encontrar facilmente o que ia procurar; e esta ordem, unida à abundância de objectos úteis e cómodos, causava-me a mais viva alegria.

Foi então que comecei a escrever um diário, no qual consignei o emprego exacto de todas as minhas horas. Ao princípio tinha andado muito agitado e demasiadamente sobrecarregado de trabalho para dar conta da inversão do meu tempo, e esta apenas teria contido coisas insípidas e insignificantes. Por exemplo, eis como então certamente teria começado:

«Em 30 de Setembro, alcançada a margem do mar, vomitei água salgada, que tinha engolido; após dar graças a Deus por me haver salvo a vida, comecei a correr como um louco de um lado para o outro, torcendo os braços, ferindo-me na cabeça e no rosto, amaldiçoando a sorte e gritando com todas as minhas forças:

«- Estou perdido, perdido sem remédio! - Até que, debilitado e abatido, me deitei no solo duro, sem me atrever a dormir, com medo de ser devorado pelas feras.





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