Robinson Crusoe - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 93 / 241

A estação chuvosa variava de duração, consoante o vento; mas, apesar disso, subsistiam as observações gerais. Disse já que tinha aprendido à minha custa como era insalubre o efeito das chuvas, motivo por que fiz as provisões com antecedência, com medo de ver-me precisado de sair na estação chuvosa, e permaneci em casa o mais que pude durante essa estação.

Não vá, porém, julgar-se que estive ocioso durante todo esse tempo no meu retiro; ainda tinha bastantes coisas com que ocupar-me, pois faltavam-me uma quantidade de objectos que apenas poderia arranjar graças a um trabalho pesado e um labor contínuo. Por exemplo, fiz diversas tentativas para construir uma cesta; mas os ramos pequenos que empregava partiam-se com tamanha facilidade que não pude consegui-lo. Foi para mim uma grande felicidade ter frequentado na infância a tenda de um cesteiro que vivia na minha terra natal; gostava de ver como entrelaçava a sua obra, e como as crianças estão sempre prontas a prestar certos serviços quando eles não são obrigatórios, pude observar o seu trabalho, eu próprio o tendo feito também algumas vezes, motivo por que conhecia quase toda a prática do ofício. Faltavam-me apenas os materiais; mas pensei que os novos rebentos das árvores de onde havia cortado as estacas podiam ter a flexibilidade do vime ou do salgueiro, e resolvi comprová-lo.

Consequentemente, fui no dia seguinte à granja, como eu lhe chamava, cortei alguns ramos pequenos, e achei-os tal como desejava. Regressei então com um machado para cortar uma grande quantidade, o que foi muito fácil porque estas árvores eram abundantes naqueles lugares. Pu-los a secar, e assim que ficaram em condições de poderem ser trabalhados, transferi-os para a gruta, onde me ocupei, durante a estação seguinte, a fazer uma infinidade de cestas, quer para levar terra de um lado para o outro, quer para conservar diversos objectos. Estas canastras ou cestas não tinham formas agradáveis à vista, mas eram-me muito úteis; tomei precauções para que nunca me faltassem, e renovava-as à medida que se iam tornando velhas com o uso.