Procurei, sobretudo, que fossem fortes e fundas, para guardar o meu grão se chegasse a apanhar muito, em vez de conservá-lo em sacos.
Vencida esta dificuldade, procurei prover-me de duas coisas indispensáveis: para guardar os líquidos apenas dispunha de dois barrilitos quase cheios de rum, e de algumas garrafas de vidro de tamanho normal, quadradas umas, redondas outras, cheias de aguardente e outros licores. Não possuía qualquer vasilha para poder cozer a mínima coisa, a não ser uma grande caldeira salva do naufrágio mas que, pelo seu tamanho, não podia servir para cozer ou assar um único pedaço de carne. A segunda coisa que desejava era um cachimbo para fumar; ao princípio pareceu-me impossível fazer um, mas acabei por dar com o processo de consegui-lo.
Estas eram as minhas ocupações de Verão; ora punha algumas paliçadas, ora trabalhava como cesteiro, quando um outro acontecimento veio roubar-me o tempo de que necessitava.
Deixei dito atrás que tinha um desejo enorme de percorrer toda a ilha e que já chegara ao vale onde estava o meu jardim, daí avistando o mar por uma abertura dos penhascos, no outro lado da ilha. Quis ir agora até lá e, pegando na escopeta e no machado, e levando o cão, parti depois de ter posto no meu bornal maior quantidade de pólvora e chumbo do que tinha por hábito, duas bolachas e dois ou três cachos de uvas. Quando atravessei todo o vale, que já mencionei, descobri o mar a oeste e, como estava um dia muito claro, vi distintamente a terra. Não podia dizer se aquilo era uma ilha ou um continente, mas via que tinha muitas elevações, estendendo-se de leste para oeste-sudoeste numa grande distância, que calculei não ser inferior a quinze ou vinte léguas. Ignorava que terra era aquela, mas estava seguro de que fazia parte da América e, segundo as minhas observações, que pertencia às possessões espanholas; era provável, no entanto, que estivesse habitada por selvagens e que, se me aventurasse a aproximar, me fariam padecer uma sorte mais dura do que a minha.