Ecce Homo - Cap. 15: Por que sou uma fatalidade Pág. 108 / 115

Zaratustra criou este erro cheio de fatais consequências que é a moral, deve ser por conseguinte o primeiro a reconhecer o erro. Não só possui aqui experiência mais ampla e profunda do que outros pensadores - a história, em sua totalidade, outra coisa não é senão a refutação experimental das proposições da pretensa «ordem moral» - mas, observação mais importante, Zaratustra é mais verídico do que qualquer outro pensador. A sua doutrina, e só ela, considera a veracidade como superior virtude - e isso significa oposição à cobardia dos «idealistas» que fogem perante a realidade; Zaratustra tem mais coragem que todos os pensadores juntos. Dizer a verdade, saber disparar 0 arco é a virtude persa. Compreendem-me. A vitória da moral sobre si própria, a vitória do moralista sobre si próprio para vir terminar no seu contrário, ou seja «em mim», eis o que significa na minha boca Zaratustra.

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São no fundo duas negações que a palavra «imoralista», para mim, implica. Nego, por um lado, o tipo de homem que até agora era valorizado como superior, o homem «bom», «benévolo», «caridoso»; nego, por outro 'lado, a espécie de moral, que, como moral, em si se tornou relevante e dominadora - a moral da decadência, e, de maneira mais precisa, a moral cristã. Será lícito considerar, como mais decisiva, a segunda contradição, visto que o demasiado alto apreço pela bondade e pela benev0'lência me aparece já, de maneira geral, corno resultado de decadência, como sintoma de fraqueza, como incompatível com uma vida elevada e afirmativa: pois que a condição de afirmar está na ciência de negar e destruir.

Vou deter-me, primeiramente, na psicologia do homem bom. Para apreciar o valor de um tipo humano, requere-se calcu1ar o preço da sua conservação, - requere-se conhecer as suas condições de existência.





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