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Capítulo 15: Por que sou uma fatalidade

Página 109
A. condição de existência do bom é a mentira: exprimindo de outra maneira, é a recusa obstinada, e a todo o preço, de ver como é constituída a realidade. Ora ela não é constituída de modo a solicitar constantemente os instintos benévolos, e menos ainda a permitir a intervenção de mãos néscias e bondosas. Considerar em geral as desgraças de toda a espécie como simples embaraço, como coisa a suprimir, é a necedade por excelência, necedade que pode provocar verdadeiras catástrofes. Se se olham as coisas de alto, essa atitude aparece como fatalidade da estupidez - e estupidez quase tamanha como seria pretender, por exemplo, suprimir as intempéries por amor dos pobres...

Na grande economia do Todo, os terríveis golpes da realidade (na ambição, nas paixões, na vontade, de poder) são necessários em grau inapreciável, muito mais que a forma medíocre de ser feliz que se chama «bondade». É preciso até ser indulgente para conceder lugar a esta última, visto que ela tem por condição a mentira dos instintos. Terei já ocasião de mostrar as consequências perturbantes 'e incomensuráveis que pode ter, para toda a história, o optimismo, essa criação dos «homines optimi». Zaratustra compreendeu antes de ninguém que o optimista é tão decadente como pessimista, e talvez mais nocivo. Eis as suas palavras:

«Os homens bons nunca dizem a verdade. Os homens bons ensinam a falsidade na maneira de agir e de pensar. Vos nascestes e fostes educado nas mentiras dos bons. Tudo foi desde o fundo deformado e pervertido pelos bons.»

O mundo não está felizmente para corresponder aos instintos em que o animal de rebanho encontra a felicidade. Exigir que todos os «homens bons» tenham olhos azuis sejam bondosos tenham uma «bela alma» - ou, como quer o senhor Herbert Spencer, se tornem «altruístas» - seria retirar à existência a sua característica primacial, seria castrar a humanidade e fazê-la descer à mais mesquinha chinesice.

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pág. 109 (Capítulo 15)

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Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 109

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106