Um Estudo em Escarlate - Cap. 3: 3 - O Mistério de Lauriston Gardens Pág. 23 / 127

É o resultado de ser uma personagem não oficial.

- Mas ele implora-lhe que o ajude.

- Sim. Ele sabe que lhe sou superior e admite-o; mas preferia cortar a língua a confessá-lo a uma terceira pessoa. Seja como for, também podemos ir e dar uma vista de olhos. Resolverei o caso por minha conta. Talvez me ria deles, se não conseguir mais nada. Vamos!

Vestiu apressadamente o sobretudo e andou de um lado para o outro de uma maneira que evidenciava que um acesso de energia substituíra a apatia.

- Vá buscar o seu chapéu - disse ele.

- Quer que o acompanhe?

- Quero, se não tiver nada melhor para fazer. - Um minuto depois estávamos os dois dentro de Um cabriolé que se dirigia a toda a velocidade para a Brixton Road.

Estava uma manhã enevoada, nublada, e um véu castanho-escuro pairava sobre o cimo das casas, parecendo-se com o reflexo das ruas da cor da lama. O meu companheiro estava muito bem disposto e tagarelava sobre as rabecas de Cremona e sobre a diferença entre um Stradivarius e um Amati. No que me diz respeito, fiquei calado, porque o tempo carregado e o assunto melancólico em que estávamos embrenhados me deprimiam.

- Parece não pensar muito no assunto em questão disse eu por fim, interrompendo a disquisição musical de Holmes.

- Ainda não há dados - respondeu ele. - É um erro gravíssimo teorizar antes de se terem todas as provas. Influencia o juízo.

- Em breve terá os seus dados - comentei, apontando com o dedo -; se não estou enganado, esta é a Brixton Road e aquela é a casa.

- Assim é. Pare, cocheiro, pare! - Estávamos ainda a mais ou menos cem metros de distância, mas ele insistiu que descêssemos, e terminámos a nossa viagem a pé.

O n.º 3 de Lauriston Gardens tinha um aspecto agoirento e ameaçador. Era uma de quatro casas que estavam um pouco afastadas da rua, duas ocupadas e duas vazias. A última, com três filas de janelas vazias e melancólicas, que estavam despidas e lúgubres, salvo por aparecer aqui e ali um cartão «Para alugar», como uma cachoeira nas vidraças embaciadas.





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