Um Estudo em Escarlate - Cap. 4: 4 - O que John Rance Tinha para Contar Pág. 37 / 127

- Não me vai prender por assassínio - disse ele. - Sou um dos perdigueiros e não o lobo; o Sr. Gregson ou o Sr. Lestrade serão os responsáveis por isso; mesmo assim continue. Que fez a seguir?

Rance retomou o seu lugar, sem contudo perder a expressão de incredulidade.

- Voltei para o portão e apitei. Isso trouxe Murcher e mais dois ao local.

- Nessa altura a rua estava deserta?

- Bem, estava, tanto quanto é possível a uma pessoa capaz.

- Que quer dizer?

As feições do polícia distenderam-se num sorriso largo.

- Vi muitos bêbados durante as minhas rondas - disse ele -, mas nenhum tão bêbado como aquele tipo. Estava ao portão quando saí, encostado às grades e a cantar em voz alta a Columbine 's New-fangled Banner, ou qualquer coisa do género. Não se aguentava em pé e muito menos podia ajudar.

- Que tipo de homem era ele? - perguntou Sherlock Holmes.

John Rance parecia um pouco irritado com esta divagação.

- Era um bêbado fora do vulgar - disse ele. - Teria ido parar à esquadra se não estivéssemos tão ocupados.

- O rosto, a roupa, não reparou? - interrompeu Holmes com impaciência.

- Acho que reparei, visto que tive de o segurar, com Murcher no meio da gente. Era um indivíduo alto, corado, a parte inferior envolta...

- Isso chega - gritou Holmes. - Que foi feito dele?

- Tínhamos mais que fazer do que tratar dele - disse o polícia, num tom de voz magoado. - Aposto que acabou por encontrar o caminho para casa.

- Como estava vestido?

- Um sobretudo castanho.

- Tinha um chicote na mão?

- Um chicote... não.

- Deve tê-lo deixado ficar para trás - murmurou o meu companheiro.

- Por acaso não viu ou ouviu um cabriolé depois disso?

- Não.

- Aqui tem uma meia libra de ouro - disse o meu companheiro, levantando-se e pegando no chapéu. - Rance, receio que nunca seja promovido. A cabeça não devia servir só de ornamento. Poderia ter ganho as divisas de sargento ontem à noite.





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