Um Estudo em Escarlate - Cap. 8: Segunda Parte: 1 - Na Imensa Planície de Alcali Pág. 67 / 127

Em toda esta imensidão não existia um raio de esperança. Olhou para o norte, leste e oeste com olhar desvairado e inquiridor; então compreendeu que as suas longas viagens tinham chegado ao fim e que ali, naquele despenhadeiro árido, estava às portas da morte. - Por que não aqui, em vez de numa cama de penas, daqui a vinte anos - murmurou ele, enquanto se sentava no abrigo de um bloco de pedra.

Antes de se sentar, pusera no chão a espingarda sem utilidade e também uma grande trouxa embrulhada num xaile cinzento, que carregara no ombro direito. Parecia ser um pouco pesada de mais para a sua força, porque, ao baixá-la, esta caiu no chão com uma certa violência. Saiu imediatamente de dentro do embrulho cinzento um pequeno queixume e um rosto miúdo, assustado, com uns olhos castanhos muito brilhantes, duas mãos pequenas sarapintadas e com covinhas.

- Magoou-me! - disse a voz de uma criança, acusadoramente.

- Embora te tenha magoado - respondeu o homem, com um ar de arrependimento -, não o fiz de propósito. Enquanto falava, abriu o xaile cinzento e desprendeu uma menina bonita com cerca de cinco anos de idade, cujos sapatos graciosos e o elegante vestido cor-de-rosa com um pequeno avental de linho eram prova do cuidado de uma mãe. A criança estava pálida e abatida, mas os braços e as pernas fortes mostravam que ela sofrera menos do que o seu companheiro.

- Como te sentes agora? - perguntou ele, cheio de impaciência, porque ela continuava a esfregar os caracóis loiros como a estopa que lhe cobriam a nuca.

- Dá-lhe um beijo para ficar bom - disse ela, com um ar muito solene, mostrando-lhe a zona magoada. - É o que a mãe costuma fazer. Onde está a mãe?

- A mãe foi-se embora. Acho que a verás em breve.

- Partiu, hem? - disse a miúda. - Estranho, ela não se despediu; quase sempre o fazia, mesmo se fosse só a casa da tia para lanchar, e agora partiu há três dias. Está muito seco, não está? Não há água nem nada para comer?

- Não, não há nada, minha querida. Terás de ter um pouco mais de paciência; então ficarás bem.





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