Cândido - Cap. 12: CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha Pág. 38 / 118

Ao fim de alguns dias, decidiram comer as mulheres.

«Nós tínhamos, porém, um imã muito piedoso e compadecido, que lhes fez um lindo sermão e os convenceu a não nos matarem.

«'- Cortai', disse ele, 'uma das nádegas a cada uma das damas e tereis assim uma boa provisão de carne. E, se necessário for, podereis voltar a repetir a operação dentro de alguns dias; o Céu louvar-vos-á um acto tão caritativo e acudirá certamente em vosso socorro.

«Como era homem de grande eloquência, persuadiu-os. Fizeram-nos a horrível operação e o imã aplicou-nos o mesmo unguento que se aplica às crianças que são circuncidadas. Ficámos todas entre a vida e a morte.

«Mal os janízaros acabavam de saborear a refeição que lhes havíamos fornecido, os Russos desembarcaram no fortim, em pequenos barcos chatos. Mataram todos os janízaros mas não nos prestaram quaisquer cuidados. Em toda a parte, porém, há cirurgiões franceses, e um deles, que era muito hábil, tratou-nos e curou-nos. Lembrar-me-ei toda a minha vida das propostas que me fez, quando as minhas chagas cicatrizaram. Além disso, aconselhou-nos a todas que nos resignássemos e assegurou-nos que facto idêntico acontecera em vários outros cercos, pois era essa a lei da guerra.

«Logo que as minhas companheiras puderam andar, mandaram-nos para Moscovo. Eu coube em partilha a um boiardo, que fez de mim sua jardineira e me dava vinte chicotadas por dia. Mas tendo este senhor, ao fim de dois anos, sido supliciado com uma trintena de boiardos, em virtude de qualquer intriga da corte, aproveitei esta oportunidade para fugir. Atravessei toda a Rússia. Fui durante muito tempo criada de taberna em Riga, e depois em Rostock, Vismar, Lípsia, Cassel, Utreque, Leida, Haia e Roterdão.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113