Cândido - Cap. 22: CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin Pág. 77 / 118

- É muito - observou Cândido. - E quantas serão boas?

- Quinze ou dezasseis - replicou o outro.

- É muito! - sentenciou Martin.

Cândido entusiasmou-se com uma actriz que fazia o papel de rainha Isabel, numa peça bastante monótona que se representava algumas vezes.

- Esta actriz - confessou ele a Martin - agrada-me muito, porque se parece com a menina Cunegundes. Gostaria imenso de lhe ser apresentado.

O abade perigordino ofereceu-se para o levar a casa dela. Cândido, educado na Alemanha, perguntou-lhe como era a etiqueta e como se tratavam, em França, as rainhas de Inglaterra.

- É preciso distinguir - disse o abade. - Na província costumam levá-las para uma taberna; em Paris respeitam-nas enquanto são belas e lançam-se no monturo quando morrem.

- Rainhas no monturo! - exclamou Cândido.

- Mas é verdade - interveio Martin -, o Sr. Abade tem razão. Eu encontrava-me em Paris quando a menina Monime passou, como se costuma dizer, desta para melhor. Recusaram-lhe o que as pessoas daqui chamam as honras da sepultura, isto é, a honra de apodrecer num horrível cemitério, com os pobres do bairro. Foi enterrada a um canto da Rua de Borgonha, o que lhe devia dar muitos cuidados, pois ela pensava com grande elevação.

- Isso foi muito descortês - disse Cândido.

- Que quereis? - disse Martin. - Estas pessoas são assim. Imaginai todas as contradições, todas as incoerências e todas as incompatibilidades possíveis, e encontrá-las-eis no Governo, nos tribunais, nas igrejas, nos espectáculos desta divertida nação.

- É verdade que em Paris se passa a vida a rir? - perguntou Cândido.

- Sim - respondeu o abade -, mas é irritante, porque se queixam de tudo às gargalhadas e praticam a rir mesmo os actos mais detestáveis.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113