Cândido - Cap. 25: CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano Pág. 96 / 118

Perguntei algumas vezes aos sábios se eles se aborreciam tanto como eu ao ler este livro; todas as pessoas sinceras me confessaram que o livro lhes caía das mãos, mas que era preciso tê-lo sempre na biblioteca, como um monumento da antiguidade e como aquelas medalhas enferrujadas que não podem ser objecto de comércio.

- Vossa Excelência pensa o mesmo de Virgílio? - perguntou Cândido.

- Concordo - respondeu Pococuranté - que o segundo, o quarto e o sexto livro da Eneida são excelentes, mas não creio que haja nada tão frio e insípido como o seu pio Eneias, o forte Cloantos, o amigo Acates, o pequeno Ascânio, o imbecil rei Latino, a burguesa Amata e a insípida Lavínia. Prefiro o Tasso e os contos de Ariosto, que nos fazem dormir em pé.

- Será atrevimento perguntar-vos, senhor - disse Cândido -, se ledes Horácio com grande prazer?

-Tem máximas - respondeu Pococuranté - de que um homem de sociedade pode tirar proveito e que, contidas em versos enérgicos, se gravam mais facilmente na memória, mas preocupa-me muito pouco a sua viagem a Brindes e a sua descrição de um mau jantar ou uma disputa entre não sei que Pupilo, cujas palavras eram, diz ele, cheias depus, e de um outro cujas palavras eram de vinagre. Li com extremo desgosto os seus versos contra as velhas e as bruxas e não compreendo que mérito possa haver em dizer ao seu amigo Mecenas que, se ele for elevado• à categoria dos poetas líricos, há-de ferir os astros com a sua fronte sublime. Os tolos admiram tudo num autor consagrado. Eu só leio para mim e só gosto daquilo que me dá prazer.

Cândido, que tinha sido educado a nunca julgar coisa alguma por si próprio, surpreendia-se bastante com o que ouvia, mas Martin achava bastante razoável a maneira de pensar de Pococuranté.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113