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Capítulo 4: Eneias e Dido

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— Ó Júpiter omnipotente, a quem nós mouros escuros adoramos e oferecemos libações, vês estas coisas? Será que trememos em vão, ó Pai, quando atiras os teus raios, iluminas as nuvens com fogos ocultos ou as fazes ribombar com teu trovão? Essa mulher, a quem vendemos um pedaço da nossa terra para que construísse a sua cidade e para que a cultivasse, e que recusou a minha oferta de casamento, recebeu agora Eneias como seu senhor e aceitou prazenteiramente no seu reino um bando de troianos efeminados, que perfumam o cabelo e levantam os fracos queixas com tiras. Teremos nós, teus devoras adoradores, de suportar tal afronta?

O poderoso Júpiter escutou estas palavras de larbas, seu servo, que lhe erguia as mãos e abraçava os altares e volveu os olhos para as muralhas reais de Cartago e para o par que, envolvido no seu amor, se esquecera de outras coisas mais elevadas. Chamou então Mercúrio, seu mensageiro, e disse-lhe:

— Vai, meu filho, corre, chama os zéfiros e voa à Líbia para dizer ao chefe dardanio — que agora vive em Cartago da Tmia, sem se preocupar com os factos futuros — que eu, Júpiter, lhe envio esta mensagem: não foi para tal destino que a sua formosa mãe o salvou duas vezes das armas dos gregos e sim para fundar na Itália um novo e poderoso reino que, fremente de guerra, propagaria a alta geração dos troianos e submeteria a orbe inteira à sua lei. Se nenhuma glória de tão grandes acções o excita e nem o anima o esforço para obtê-la, que pelo menos se lembre de seu filho Ascânio e pense do que o privará. Que quer Eneias? Com que esperança se detém no meio do povo inimigo? Não pensa na descendência que deverá lançar nos campos de Lavínio? Que parta! Que lance os barcos ao mar e que navegue! É isso que determino e é essa a minha mensagem.

Mal se calou e já Mercúrio, apressado, se dispunha a obedecer à ordem do grande pai. Primeiramente, calçou as suas sandálias de ouro, que o sustentam no ar com as suas asas e o impelem com um sopro rápido por sobre as terras e por cima dos mares. E agarrou então na varinha com que faz sair do inferno as almas pálidas ou para lá as envia, com a qual dá e tira o sono ou reabre os olhos dos mortos, e, confiado nela, repete os ventos e avança entre as nuvens agitadas.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215