Sentado viram
O génio da montanha, alvas trajando
Roupas de nuvem, dar ouvido atento
Às canções magoadas e suavíssimas
De Bernardim saudoso e namorado.
Bernardim, que das musas lusitanas
Primeiro obteve a c’roa d’alvas rosas,
Com que - em seu mal - romântico alaúde
Engrinaldou para cantar amores
Doces d’alta princesa, - inda mais doces
Favores, que indiscretos revelaram
Êxtase d’alma em derretidos cantos.
Fragueiros inda vivem que de vê-lo
Se acordam pela noite andar vagando
Por os picos da serra no mais alto,
Ora ternas carícias dando ao vento,
Ora imprecando com furor as rocas,
E a miúdo suavíssimas cantigas
De apaixonado assunto modulando.
X
Súbito um dia, de bordão na dextra,
Na opa de peregrino disfarçado
Desce os montes da Lua, e mais erguidas
Serras demanda; em romaria aos Alpes
Parte, a levar o coração votado
A quem talvez, na púrpura, suspira
Pelos andrajos do mendigo amante.