XXI
Longo o calar não foi: com passo trémulo
Do jovem se aproxima o ancião guerreiro:
- «Nesta grande cidade ambos estranhos
Somos, ao que parece.»
- «Estranho eu?... Quase.
Sou e não sou estranho.»
- «Não me é d’uso
O meter mão curiosa nos segredos
De quem os tem.»
- «Segredos não nos tenho:
Sou português, e de ser tal me... prezo.»
- «Mas de Lisboa não?»
- «É minha pátria.
Desejais saber mais?»
- «Minhas perguntas,
Cavaleiro, não são de curioso;
Outra vez o repito: um pobre monge
Tem uma pobre cela e magra ceia,
Mas ambas oferece d’alma e gosto.
É tarde; e se outro hospício à mão não tendes,
Sereis benvindo a um gasalhado humilde
De quem melhor, a tê-lo, o oferecera.
Má noute passareis; mas um soldado
Não teme estrados maus nem leitos duros.