(A ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO)
I
Já que os vejo passar assim altivos
E cheios de vanglória, como quem
Ao peito humano deu a luz que tem,
E a nossos corações os lumes vivos;
Já que os vejo, assentados na cadeira
Da prudência, falar com voz segura,
Dar-se em adoração à gente escura
E doutrinar dali à terra inteira;
Já que os vejo, co’a mão que ata e desata,
Entre os homens partir o mundo todo
E todo o céu - e dar a este o lodo
E àquele o reino de safira e prata;
Dizer a uns - falai! e pôr na boca
Dos outros a mordaça da doutrina;
Dar a estes a espada de aço fina,
E, ao resto, pôr-lhe à cinta a estriga e a roca;
Já que os vejo fazer a noite e o dia
Com o abrir e fechar dos olhos baços;