Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 118 / 241

Fixei depois o chapéu-de-sol na popa, a fim de servir-me de tenda e de defender-me do sol. Assim, fiz algumas pequenas saídas ao mar, mas sempre sem me afastar da enseada. Por último, estando cada dia mais ansioso por conhecer a área do meu pequeno reino, decidi-me a empreender uma excursão. Consequentemente, embarquei duas dúzias dos meus pães de cevada (que mais deveriam chamar-se fogaças), uma caixa de arroz cru (alimento de que fazia grande consumo), uma pequena garrafa de rum, metade de uma lama, pólvora e chumbo para matar outras e, finalmente, dois grandes sobretudos ou capotes que tinha encontrado nas arcas dos marinheiros, servindo-me um de cama e o outro para me cobrir durante a noite.

Encetei esta viagem a 6 de Novembro do sexto ano do meu reinado ou, se o leitor prefere, do meu cativeiro, e achei-a muito mais longa do que tinha pensado porque, embora a ilha não fosse muito larga, assim que cheguei ao lado leste dei com uma grande cadeia de rochas que se estendiam, parte acima e parte abaixo da água, numa extensão de duas léguas pelo mar dentro, e na sua extremidade com uma espécie de banco de areia seco de uma meia légua. Vi-me forçado, portanto, a dar uma grande volta para dobrar aquela ponta.

Quando descobri as rochas senti-me tentado a abandonar a empresa e a voltar por onde viera, mas ignorava a que distância me veria obrigado a sair para o mar e, sobretudo, como me arranjaria para regressar. Perante isto larguei a âncora, pois fizera uma com um acroque partido que tirei do buque.

Assim que a piroga ficou bem presa, peguei na escopeta, saltei em terra e subi a um monte de onde distingui toda a extensão daquela cordilheira de rochas; resolvi aventurar-me a dobrá-la.

Dirigindo a vista para o lado do mar desde aquelas alturas notei uma corrente rápida, quase vertiginosa, que se dirigia para leste e passava perto da cordilheira.