Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 117 / 241

As coisas principais com que me ralava eram, por um lado, o meu trabalho anual de semear cevada e arroz e a minha vindima (colhia sempre provisões adiantadas de uma e outra para, pelo menos, um ano), e, por outro, as horas de caça diárias. Empreendera, além disso, a construção de uma nova canoa, que, por fim, terminei; fiz uma espécie de canal de seis pés de largura e quatro de profundidade, com o intuito de conduzi-la para a enseada, a quase meia milha de distância. Quanto à primeira, como a tinha feito desmesuradamente grande, sem calcular se podia lançá-la ao mar, e como nem podia levá-la até à água nem conduzir esta até ela, deixei-a naquele sítio, como um aviso para o futuro. Desta vez, porém, embora a árvore que empreguei não fosse tão boa, e não estivesse afastada do mar mais de uma escassa meia milha, vi que o meu projecto era praticável, e nada conseguiu distrair-me dele. Trabalhei durante dois anos sem descanso nem desânimo, com a esperança de obter uma embarcação para, enfim, me lançar ao mar.

Apesar de tudo, quando a minha pequena piroga ficou pronta, vi que as suas dimensões não correspondiam ao destino que tinha dado à primeira: aventurar-me a ganhar terra firme, que se encontrava a umas quarenta milhas de distância. O meu barquinho era, pois, demasiado pequeno para persistir em tal ideia, e desisti de pensar mais no caso, mas resolvi servir-me dele para dar a volta à ilha. Tinha já visto, conforme disse antes, uma porção da costa oposta na minha travessia por terra, e os descobrimentos que fizera naquela pequena viagem inspiravam-me grandes desejos de ver o resto. A posse da canoa não me permitia pensar noutra coisa a não ser nesse projecto.

Com tal fim em vista, equipei-a o melhor que pude; fiz um mastro pequeno e uma vela com alguns bocados das do navio que guardara na tenda, e das quais possuía uma provisão muito grande.

Experimentando depois a canoa, vi que manobrava muito bem. Fiz-lhe nas duas extremidades pequenas caixas para meter os víveres, coisas diversas, munições e mantê-las ao abrigo tanto da chuva como da água do mar.





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