Permaneci dois dias naquela colina porque o vento, soprando com força de ESE, lutava contra a corrente e rechaçava o mar para as rochas. Assim, não devia manter-me nem perto da costa pela rompante nem afastar-me de mais pela corrente.
No terceiro dia pela manhã o tempo modificara-se de súbito, o mar estava tranquilo e, por isso, aventurei-me a partir. O que se segue pode servir de exemplo a pilotos ignorantes e presumidos: mal dobrara a ponta das rochas, e quando não me afastara ainda da margem mais que o comprimento da canoa, encontrei-me com uma profundidade tão espantosa e no meio de uma corrente tão violenta como a comporta de um moinho. Arrastou-me com tal força que não pude conservar a canoa perto da margem, e afastei-me cada vez mais do remoinho que tinha à esquerda. Nem uma aragem corria para me ajudar, e a acção dos meus remos era nula. Então julguei-me perdido porque, como as correntes se dirigiam para os dois lados da ilha, calculei que deveriam juntar-se num certo ponto e que, arrastado para ali, me veria perdido sem remédio. Não tinha, pois, possibilidade de me salvar nem outra perspectiva do que a de perecer, não no mar, pois este apresentava-se muito tranquilo, mas no meio dos horrores da fome. Havia encontrado em terra, é certo, uma tartaruga que metera na piroga, tão grande que quase não podia levantá-la, e tinha enchido com água fresca uma das grandes vasilhas de barro.