Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 122 / 241

Dava-me agora muito trabalho transportar a canoa para casa; tinha corrido perigos inúmeros; sabia bem de mais, por desgraça, ao que me expunha se voltasse a tomar o caminho por onde viera. A respeito do outro lado (o oeste), não o conhecia, e não queria correr novos perigos. Somente decidi, pela manhã, seguir ao longo da costa ocidental, com o objectivo de procurar alguma enseada para pôr a piroga em segurança, a fim de encontrá-la quando dela precisasse. Efectivamente, a pouco mais de três milhas daquele sítio, divisei uma baía de uma milha, que se ia estreitando para a embocadura de um riacho. Pareceu-me um porto excelente, e a canoa achou-se ali como se tivesse sido feita de propósito para ela. Amarrei-a solidamente, e desci a terra para inspeccionar os arredores e ver onde estava.

Encontrava-me pouco mais ou menos no mesmo local a que chegara aquando da minha excursão pedestre. Peguei então apenas na escopeta e no chapéu-de-sol, porque fazia muito calor, e meti-me ao caminho. O passeio era agradável depois de uma travessia daquelas; passei toda a tarde na minha antiga granja, onde dei com tudo em ordem, pois conservava-a sempre em bom estado, porque era, como já disse, a minha casa de campo.

Saltei a paliçada e, deitando-me à sombra para repousar os meus fatigados membros, não tardei a adormecer. Mas calcule-se qual não foi a minha surpresa ao ver-me acordado por uma voz que me chamava repetidas vezes:

- Robinson Crusoe! Pobre Robinson Crusoe! Onde estás, Robinson Crusoe? Onde estás? Onde foste?

Apesar disto, estava tão profundamente vencido pela fadiga que não despertei logo. Lutava entre o sono e a vigília, e julgava ao mesmo" tempo estar a sonhar que alguém falava comigo. Mas a voz continuava a chamar-me:

- Robinson Crusoe! Robinson Crusoe!

Acordei de repente e permaneci um instante muito assustado e imerso na maior consternação; mas logo de seguida cobrei ânimo quando vi «Poli», o meu papagaio, pousado em cima da cerca.