Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 121 / 241

Os que foram perdoados quando já estavam junto do cadafalso; os que foram salvos do punhal dos assassinos no momento de irem ser mortos - só eles, que se encontraram em semelhantes lances tão terríveis, podem compreender a alegria que experimentei então, os cuidados que pus em fazer entrar a canoa no remoinho, em estender a vela à brisa que refrescava, e em navegar de vento em popa.

O remoinho aproximou-me da minha ilha, mas desviando-me duas léguas mais em direcção ao norte. Assim, ao abordar, encontrei-me a norte da ilha, isto é, precisamente na parte oposta àquela em que tinha embarcado. Quando a corrente ou remoinho me fez correr um pouco mais de uma légua, achei-me desanimado e sem forças. Estava então entre duas correntes: a do sul e a que me havia arrastado para norte, afastado da primeira uma légua de distância, e que me dirigia para outro lado. Entre estas duas correntes na direcção da minha ilha, encontrei as águas de súbito calmas e sem movimento. Aproveitando a brisa favorável, continuei a encaminhar-me para a ilha, mas com mais lentidão do que quando era levado pela corrente. Pelas quatro da tarde, à distância de cerca de uma légua da minha ilha, vi que a ponta das rochas, causa principal das dificuldades encontradas, estendendo-se, como já disse, para sul, e empurrando a corrente naquela direcção, também formara uma contracorrente a norte, não precisamente para a minha ilha, mas um pouco mais acima. Apesar de tudo, auxiliado pela brisa favorável, lancei-me através do remoinho, dirigindo-me para NO. Cheguei em menos de uma hora a uma milha da costa e, como o mar estava em calmaria, depressa alcancei a praia.

No momento em que assentei os pés em terra, caí de joelhos e, dando graças a Deus por me ter salvo, prometi não voltar a expor-me a tais perigos para fugir da ilha; fiz depois uma refeição ligeira com a ajuda das minhas provisões, e amarrei a canoa numa pequena enseada a que algumas árvores davam sombra; em seguida, como estava morto de cansaço, deitei-me para recuperar, pelo sono, as forças esgotadas.