Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 189 / 241

Arrastámo-lo sobre a praia durante o refluxo, e Sexta-Feira fez um buraco suficientemente largo para que nele coubesse, e profundo para que se mantivesse sem movimento; depois, quando chegou a maré, fizemos uma espécie de dique na extremidade para impedir que a água entrasse, e a canoa permanecesse assim em seco apesar da subida das águas. Para a proteger da chuva, cobrimo-la com uma porção de ramos de árvores, tão espessos que o tecto de uma casa não poderia ser mais impenetrável. Assim aguardámos os meses de Novembro e Dezembro, que eu fixara para a realização do projecto.

Quando a boa estação apareceu e o tempo começou a ficar mais seguro, o desejo de executar a empresa chegou ao ponto mais vivo; ocupava-me diariamente a preparar tudo para a viagem. O meu primeiro cuidado foi reunir todas as provisões que nos poderiam ser necessárias, porque tencionava, dentro de uma ou duas semanas, destapar o buraco e lançar a canoa à água.

Achando-me uma manhã assim ocupado com os meus preparativos, chamei Sexta-Feira e ordenei-lhe que fosse à praia buscar algumas tartarugas, tal como o fazíamos habitualmente uma vez por semana, tanto pelos ovos como pela carne. Havia apenas um momento que ele saíra, quando o vi regressar a correr e a atirar-se por cima da trincheira exterior como se os seus pés não tocassem no solo; e antes que eu tivesse tempo de interrogá-lo, exclamou:

- Ah!, senhor! Ah!, senhor! Que lástima, que desgraça!

- Que se passa, Sexta-Feira?

- Oh, lá em baixo, uma, duas, três canoas! Uma, duas, três!

Acreditei logo, segundo o seu modo de exprimir, que havia lá, pelo menos, seis canoas; mas tendo-lhe perguntado, soube que não passavam de três.

- Bem - disse-lhe -, não te assustes, Sexta-Feira. Animei-o o melhor que me foi possível; apesar disso, vi que o pobre estava horrivelmente assustado. Havia-se-lhe metido na cabeça que os selvagens tinham vindo expressamente buscá-lo para o sacrificarem e devorarem.





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