«Os bons não podem criar, são sempre o começo do fim.
Crucificam aquele que inscreve valores novos em novas tábuas; sacrificam o porvir a si próprios, crucificam todo o porvir dos homens!
Os bons foram sempre o começo do fim... E qualquer que seja o prejuízo que ocasionam os caluniadores do mundo é maior o dano ocasionado pelos «bons.»
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Zaratustra, primeiro psicólogo dos homens bons, é por conseguinte um amigo do mal. Quando uma espécie decadente de homens ascende ao mais alto nível, só pode consegui-lo agindo em prejuízo da espécie adversa, a espécie dos homens fortes e seguros de si. Quando o animal de rebanho aparece nimbado da mais pura virtude, o homem de excepção sente-se forçosamente relegado para plano inferior: o do mal. Quando a mentira, a todo o custo, adopta a palavra verdade para a fazer entrar na sua óptica, vê-se o homem verídico designado nos piores termos. Zaratustra não deixa lugar a dúvidas: diz que foi o conhecimento dos homens bons, dos «melhores», que propriamente lhe inspirou o horror dos homens; e desta repugnância lhe nasceram asas «para voar para os longes de um remoto porvir». Não esconde que o seu tipo de homem, tipo relativamente sobre-humano, é sobre-humano precisamente em relação aos homens bons; pois que os bons e os justos chamariam demónio ao seu «super-homern»...
«Homens superiores que os meus olhos encontram, eis a dúvida e o secreto riso que me inspirais: adivinho o que chamarei ao meu super-homem: demónio.