De facto, sempre até aos anos de maturidade comi mal, ou falando moralisticamente, diria que comi de maneira «impessoal», «desinteressada», «altruísta», para glória dos cozinheiros e de outros irmãos em Cristo. Adoptando a cozinha de Leipzig, por exemplo, na mesma época em que empreendia o meu estudo de Schopenhauer (ano de 1865), negava muito a sério a minha vontade de viver. Arruinar o estômago e alimentar-se ao mesmo tempo de modo deficiente, eis um problema que a aludida cozinha se me afigura resolver de modo muito satisfatório. (Diz-se que o ano de 1866 trouxe neste ponto melhoria). Quantas coisas, por tal estão, não tem, entretanto, na consciência a cozinha alemã em geral! A sopa antes da refeição (ainda em livros venezianos de arte culinária do século XVI se designa isso como «à maneira alemã»); a carne muito cozida; a hortaliça grossa e suculenta; a degenerescência dos bolos, até fazer deles pesa-papéis.